terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Saint Jean Pied de Port-Roncesvalles

17/04/09

Dormi mal, com mil pensamentos rodeando minha mente, e  ouvindo ruídos dos quartos vizinhos.

Acordei às 5,30 horas e desci as escadas dos três andares da pensão no escuro, iluminando os degraus com uma mini lanterna de "led".

Na cozinha já estavam tomando café um alemão, Beo, e uma austríaca ambos por volta de seus 30 anos.
Ele falava bem inglês e ela só o dialeto austríaco que, aos meus ouvidos, soava parecido com o alemão.
Conversamos um pouco...eles iriam subir a pé.

Mme Marie me disse que não havia ônibus para Roncesvalles e o  táxi me cobraria 60 euros até lá.
"Mas como?!?!...só a pé ou de táxi?!?! Meu dinheiro não vai dar!!".

Mme Marie preparou-me um lanche de "pan con queso" para a caminhada e eu agradeci achando que era grátis.

"Você não me pagou pelo lanche..." disse no caminho para a "gasolinera" onde abasteceria o carro e tentaria  me arrumar condução.

"Fique aqui...não quero que vejam  que está sozinha".
Eu pensei logo..."Onde fui me meter!".
Voltou acompanhada do senhor Sebastian que me levaria os 24 quilômetros montanha  acima.

Nunca havia viajado de carona ainda mais na boléia de um caminhão gigante como aquele!
Fomos conversando e quando perguntei de que parte da Espanha ele era me respondeu educada mas firmemente..."No soy español...soy basco!".
Quem pertence ao País Basco não se considera espanhol.


Pelo caminho percebi que havia neve e ele também me contou da morte das três mulheres.
Falamos sobre nossas famílias, filhos e netos.


Finalmente cheguei a Roncesvalles às 11 horas.
Sebastian me desejou "buen camino" e fui procurar o albergue.

Como não havia subido a pé não me deixaram ficar lá.
Teria que esperar até às 17 horas para ver se sobraria alguma cama.

Eles esperavam a chegada de muitos peregrinos.
É claro que a prioridade é de quem caminha ou vai de bicicleta.

Muito organizada a encarregada carimbou minha credencial de peregrina e anotou que eu não havia chegado a  pé.
Somente com esse "passaporte" você pode se hospedar nos albergues.
É o comprovante oficial de que você é um peregrino.

Também anotou meu nome em um grande livro e de que país eu era. 
Saí e fui procurar hospedagem.
Foi fácil pois só havia  um hotel e o hostal Casa Sabina.
Fiquei  ali.


Na última janela à esquerda era meu quarto e dali eu podia ver os peregrinos chegando aos poucos.
Ainda não me sentia uma, já que não tinha posto meus pés no chão de verdade.


Roncesvalles é um vilarejo tranquilo com a Real Colegiata, o albergue, a igreja de Santiago toda de pedras, a capela de Santi Espiritus e a Cruz de peregrinos.

Aqui se veem os Pireneus cobertos de neve e o albergue.


Enquanto esperava o jantar fiquei observando os peregrinos "torcendo" as roupas numa espécie de cilindro gigante de macarrão e estendendo-as na cerca.

É isso mesmo...depois de caminhar é preciso lavar tudo...embora, ao longo do caminho, nem todos  fizessem isso.


O jantar comunitário foi delicioso com sopa de legumes, trutas frescas com limão siciliano, batatas, pão, vinho e iogurte.
À mesa, comigo, franceses e uma suíça.
Christianne, francesa ao meu lado, tornar-se-ia  depois uma grande companheira.

E o cobertor da TAM, já fazendo seu papel de cachecol, pendurado na cadeira.


Terminado o jantar fui dar uma olhada no albergue e vi que havia beliches e "triliches''.
Muitos dias depois quem havia ficado lá disse que foi uma experiência e tanto.

Dormiram aproximadamente 250 pessoas num grande salão e com apenas três banheiros!

20 horas! Hora da missa dos peregrinos!
Uma linda cerimônia celebrada em latim e espanhol, por três monges bem velhinhos na igreja toda de pedra, construída há mais de 600 anos, com lindos vitrais ao fundo.

Órgão e cantos gregorianos de arrepiar...impossível não se emocionar quando falam os nomes dos países dos peregrinos.

E nessa hora eu me dei conta de que se  fui louca  de realizar essa viagem havia outros loucos no mundo me acompanhando!


Os monges pediram que todos os peregrinos se aproximassem desse altar e na língua de cada país nos abençoaram dizendo uma verdade que eu já sabia.

Apesar de todos os obstáculos físicos e emocionais que encontraríamos, muito mais que isso...seria uma verdadeira peregrinação interior de cada  homem e mulher reunidos naquele espaço.

E vamos dormir que amanhã tem mais!

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