sábado, 6 de fevereiro de 2010

Los Arcos-Logroño


23/04/09

Acordei com o sino da igreja batendo seis vezes...6 horas da manhã!
Pela minha rotina havia perdido a hora...dormi demais.
A responsável pelo refúgio tinha me mostrado o portão de saída na véspera...era nos fundos..."Bata o portão que ele trava sozinho" disse.

O dia amanhecia quando deixei Los Arcos.


Havia comprado um copo hermético de chocolate que aquecia sozinho quando rompido o lacre...foi meu "desayuno" junto com uma "tostada" amanhecida.

Aprendia a não jogar nada fora...migalhas eram úteis na hora da fome.
Nós, brasileiros, desperdiçamos muita comida.


Franceses e italianos haviam me intimado a chegar até Logroño...32 quilômetros à frente...não queriam separar o grupo...e me incluíram nele.


Quando conversava com os ciclistas eles diziam que o Caminho era um passeio...pois acabava rápido.

Muitos deles me disseram que o clique interno só seria possível a pé...a concentração deles na estrada desconcentrava-os do encontro interior...que se mostrava lentamente...encantador, mágico e difícil.

Vi vários deles "apeando da bike"...com as pernas arqueadas jogavam a coitada no chão e ficavam assim, tortos, por vários minutos até endireitarem o corpo...o bumbum sofria.



Eles podiam escolher entre ir pela "carretera" ou pelas "nossas trilhas".



Quem ia a pé tinha prioridade nos alojamentos...portanto eles sempre tinham que esperar até às 18 horas para se instalarem...se houvesse vaga.

Caso contrário tinham que ir até o próximo "pueblo".


Caminhava sempre com o sol às minhas costas...eu ia do leste para o oeste...não pegava o sol no rosto...ponto positivo!


Durante muito tempo a Cordilheira Cantábrica me acompanharia como um anjo da guarda...coberta de neve  e sempre à direita do caminho..."será que nossos anjos ficam à nossa direita?"...perguntava para me distrair.

Ela fica paralela ao Mar Cantábrico e tem 480 quilômetros de comprimento.


Fiz várias paradas para descansar...fazia calor.


Queria muito cumprir o combinado com meus companheiros...eles já haviam passado por mim.


 Parei para um café em Viana...queria muito conhecer essa vila.


Eu havia lido que César Bórgia nascido em Roma em 1475 e falecido em 1507, príncipe italiano e irmão de Lucrécia Bórgia, estava enterrado aqui...em Viana.


Ele era filho de Rodrigo Bórgia que depois foi eleito papa...Alexandre IV...também conhecido pela manipulação política em benefício do clã  Bórgia.


Sob o pretexto de proteger o mundo cristão da invasão muçulmana esse papa criou um exército católico chefiado por César Bórgia...seu conselheiro era Maquiavel..."Como seria ter um mentor como esse?". 

Fiquei ali pensando...meus pés descansavam e minha cabeça "volava".

O Caminho ficava muito mais interessante assim...deixando a imaginação solta pelas histórias vividas ali.


Avistei essa placa...estava deixando a Navarra e entrando na  província de La Rioja...terra de excelentes vinhos.


Mais um pouco e cheguei a Logroño...extenuada...já eram quase 18 horas.
Passei pela Puente de Piedra do século XII, sobre o rio Ebro,  linda e imponente com seus arcos perfeitos construídos em pedra.


Já imaginava que o albergue estaria lotado...andei mais uma hora procurando uma pensão...mais exercício de paciência.


Jantamos todos juntos...massa com vinho de La Rioja na Plaza del Mercado...centro da vida noturna de Logroño.


Despedi-me de todos...eram muito animados...não os veria mais...não faria mais a loucura de caminhar mais de 30 quilômetros num dia só!

Olhei para a catedral sendo restaurada e exercitei o bom humor pensando..."Quem precisa de restauração sou eu!".

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