terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ventosa-Azofra

25/04/09

O passeio hoje foi feito absolutamente só...eu era dona do meu tempo...estava longe da execução das tarefas rotineiras...e tive mais uma vez a certeza que isso não tinha preço.


A chuva caía  mansa...o dia estava triste...contagiava o espírito...olhava os peregrinos de costas...vestidos com as capas parecíamos dromedários.


Estava tão escuro que se não fossem os sinais no chão seria possível perder-se...como a chuva escorria pelo rosto andávamos o tempo todo de cabeça baixa...fotografar era quase impossível.



A ponte balançava e era difícil manter o equilíbrio com a mochila nas costas. 


Abaixo dela o riacho estava "nervioso"...barulhento...como as pessoas quando ficam exaltadas.

 

O tempo foi melhorando lentamente...o céu clareava...a paisagem  reaparecia...estava chegando a Nájera...em árabe..."lugar entre rochedos".

No século X uma próspera comunidade judia aqui vivia em paz...em 1357 seus habitantes foram porém dizimados na Batalha de Nájera  disputada entre dois irmãos...Pedro de Castilla e Henrique de Trastamara. 

 

Os poderes político e espiritual sempre estiveram ligados nos séculos passados...Santo Ignácio de Loyola...fundador da Companhia de Jesus hoje conhecida como Ordem dos Jesuítas...passou por aqui.

Por mandado real Nágera tornou-se parte do itinerário do Caminho...aqui se estabeleceu a Corte Real por um tempo. 

Cruzei a Ponte dos Peregrinos sobre o rio Nagerilla que tem 60 metros de largura...descansei sobre o gramado que o margeava...fechei os olhos e "volei"...imaginando tropas reais marchando por aquela ponte.


Não imaginava o que encontraria por detrás dessa magnífica porta de madeira entalhada...


O Monasterio de Santa Maria la Real foi construído em 1452 para servir de panteão de reis e rainhas...vários infantes da dinastia najerense também aqui descansam.


Há um belíssimo claustro..."Los Caballeros"...mistura dos estilos românico, gótico, barroco e renascentista. 


Esse mosteiro abriga uma caverna cuja lenda é muito bonita.


Um caçador  soltou seu falcão para perseguir uma perdiz...avistou uma caverna de onde saía uma luminosidade...quando entrou viu o falcão e a perdiz  lado a lado...pacificamente...bem próximos de uma imagem iluminada por um candeeiro...era uma Virgem com lírios perfumados aos seus pés...

A gruta era só minha...com uma profunda sensação de paz conversei longamente com nossa Mãe Maior e agradeci por meus filhos e meu neto.

 

Tomei um chocolate quente...a dona da cafeteria me deu "galetitas" e me desejou "buen camino" assustada por eu estar sozinha...tão longe de meu país.


Depois desses pinheiros cortados havia uma dura subida...olhei meus pés..."Não reclamem que as mãos estão piores que vocês!". 




Observei essas fendas no morro...a terra era muito vermelha...teriam sido abrigos para peregrinos?


Encontrei essa senhorinha à entrada de Azofra...me abençoou..."Não seria por falta de bênçãos que eu não chegaria a Santiago...". 


No albergue municipal de Azofra as acomodações era duplas...muito boas.

Conversei demoradamente com Hank, um escritor holandês, e  Robin, jornalista inglês "so english"...um peregrino muito cavalheiro.

Ambos sugeriram que eu fizesse isso que estou fazendo...contar sobre o Caminho incluindo-me nele.

Jantei com a sueca Karin...estudante de medicina...tornar-se-ia uma grande companheira...a coreana Chun Yoo...certamente estou errando na grafia do seu nome...três canadenses e uma americana. 

Trocamos confidências e experiências...o vinho é mesmo obra divina...à mesa promovia a total quebra de gelo...fazia rir e quase nos fez chorar...

Dividi o quarto com Maria uma espanhola medrosa e engraçada.
Colocou um bastão atravessado na maçaneta da porta antes de dormir..."Hay peregrinos muy borrachos...nosotros tenemos que tener cuidado". 


Fomos juntas ao banheiro na madrugada...vesti meu "chale"...havia alguém lá...o odor não era nada agradável...ela tomando um susto disse..."Madre Mia que olor!!!!"..."Mãe do Céu que cheiro!!!!"...saímos de lá as duas morrendo de rir!

4 Comentários:

Anonymous Teruko disse...

Leila,estou adorando a sua narrativa e as fotos. Que caminhada, heim ! amiga. Haja pernas e determinação!
Tem razão. A lenda da caverna é muito bonita.
Buen camino.Estarei acompanhando esta Jornada.
Beijos.
Teruko.

17 de fevereiro de 2010 às 10:27  
Blogger Leila Liz disse...

Teruko continue caminhando comigo.
Nosso passeio promete ainda algumas emoções.
Beijo!

17 de fevereiro de 2010 às 14:33  
Anonymous Anônimo disse...

Já pernoitei neste albergue.
Aliás por duas noites, por conta das bolhas nos pés.
Havia um postinho de saude aberto, na tarde que cheguei em Azofra, nem sei como cheguei com aquelas bolhas, e o medico disse pra eu não andar no dia seguinte.
As instalações são ótimas, mas o tratamento é impessoal.

Belo relato, amiga !!!

bjoss
jurema

27 de abril de 2013 às 20:26  
Blogger Leila Liz disse...

Querida Jurema, peregrina veterana...honra minha ter você por aqui.
Você tem razão...ótimo local para pernoitar...acolhida de pouca expressividade.
Beijo!

27 de abril de 2013 às 21:02  

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