quinta-feira, 27 de maio de 2010

Arzúa-Lavacolla

19/05/09

Dava-me conta de que caminhar tudo o que eu havia caminhado...racionalmente...a essa altura da vida...seria quase impossível...não foi.


Cientistas dizem que o hemisfério direito do cérebro é responsável pelo prazer...o esquerdo pela razão...o pônei não estava nem um pouco preocupado com isso...nem eu.


Percebia que havia decidido tudo com o coração...intuitivamente...não analiticamente...o perfume fresco e úmido dos pinheiros era reconfortante.


Uma teia de sol e sombra tatuava a pele do meu rosto...um carinho bem vindo.


Com paixão havia me entregado...saído da zona de conforto...vivido meu sonho...em campos luxuosos e ricos de ouro...na maior simplicidade.


Fisicamente sentia-me acabada...emocionalmente muito mexida...espiritualmente estaria renovada para sempre.


A Espanha atravessava um período difícil...2009 foi o ano da crise econômica mundial.


As pessoas improvisavam...faziam de tudo para sobreviver...em qualquer idade. 


Encontrei um ciclista chorando...gesso fresco no braço...não chegaria de bicicleta ao final...uma pena...seus companheiros o esperariam na praça central...em Santiago de Compostela.


Nossas ambulâncias e paramédicos haviam sido pessoas à beira do caminho...outros peregrinos em melhores condições físicas...todos voluntários do bem.


Caminhava pensativa...cabeça baixa...exausta não teria condições de ir até o Monte do Gozo...mas queria muito cumprir minha promessa de chegar...junto com meus amigos.

Karin e Rômulo...o casal mais bonito do caminho...fortaleceram-me com sua mensagem no chão...ninguém a havia pisado...respeitaram a comunicação peregrina...fotografei...comovida.


Conversei com três espanhóis no Hostal San Paio...amigos aposentados percorriam o caminho há dois meses.

Caminhavam pouco por dia...chegavam...jogavam baralho...tomavam vinho...cerveja...curtiam.

Parabenizaram-me pela coragem...brindaram ao empenho da "guapa brasileña"...dei risada do elogio...estava destruída.

Meu último entardecer...magnífico...em Lavacolla...onde a tradição mandava que se lavassem os pés...antes do "gran finale".


6 Comentários:

Anonymous Tarcisio Valeriano dos Passos disse...

Peregrina Leila, voce se tornou uma flor de liz no caminho. Voce tem um ótimo gosto, suas fotos mostram isto. Parabéns e obrigado pelo album.Como é bom recordar o que é bom.

22 de setembro de 2010 às 09:36  
Blogger Leila Liz disse...

Se visitar o blog fez com que você recordasse devo chamá-lo peregrino não é Tarcísio?
Obrigada pelos elogios...impossível não captar boas imagens com toda aquela beleza existente no Caminho!
E você mostra sensibilidade aguçada ao reviver e "pisar" com os olhos e o coração aquelas trilhas.
Ultreya e Suseya!
Um abraço.

22 de setembro de 2010 às 11:50  
Anonymous Osni Rabelo disse...

Prezada Leila!
Passei dois dias lendo os escritos e vendo as fotos!
São mais que palavras poéticas, é a própria poesia!
São mais que fotos maravilhosas, é o próprio universo!
São mais que percursos intermináveis, é o próprio CAMINO!
É tudo tão intenso, tão profundo, quase eterno...
Minhas lembranças jorram como aqueles límpidos riachos...
Minhas emoções fluem como aquela brisa que acariciava minha face...
Meu coração abre-se como nos diálogos que tanto me tocaram...
Leila, você lembra dos cavalos de crinas loiras e as ovelhas com marcas coloridas ( azul, verde, vermelho ) na subida dos Pirineus? Eu vi o sol nascer nos Pirineus!
E os bosques próximos do rio Erro? Lá comi as primeiras amoras...
A ponte elevadiça em Pamplona e os vinhedos nos arredores conduziram-me às histórias medievais e às conquistas romanas que tanto brincavam com minha imaginação na juventude!
Em Lorca contaram-me que o poeta descende do senhor de Lorca, que participou da reconquista.
Na fonte daquela bodega, não contive o riso quando uma alemã lavou o rosto na bica do vinho!
Numa igreja do século XII: confissões em inglês! Coisas da Espanha...
Nestas etapas de Saint Jean a Los Arcos perguntava-me: qual é o limite do ser humano?
E começava a entender que Ítaca é cada dia, sem se preocupar com a chegada...
A caminho de Navarrete a chuva fina esfria o corpo e aquece a alma; de madrugada estivera com o gaucho Gomes em seu saião... ( eu sou catarinense, hehehe! )
Encontro duas jovens que conduzem uma senhora pelos ombros; em Ziburi, um casal obeso e avermelhado pelo sol caminhava apoiando-se. Cenas de solidariedade como estas seriam comuns...
Sinto um grande prazer em parar nas praças e escrever...
Por enquanto é isto...
Abraço,
Osni

30 de outubro de 2010 às 10:40  
Blogger Leila Liz disse...

Caro Osni...quanta delicadeza e sensibilidade nos comentários!
Adorei que minhas palavras, fotos e recordações tivessem feito com que uma alma peregrina também recordasse tudo...agora sob um prisma feminino.
Catarinense...emocionei-me com as palavras que me fizeram recordar outros catarinenses queridos do Camino.
Deitei lágrimas e desfrutei também do seu recordar com prazer e alegria.
Apesar de ter feito o trajeto SJPP/Roncesvalles de carona...havia nevado...lembro das crinas douradas equinas...das ovelhas tricolores...dos cães pastores tão sedutores.
Atravessei os bosques tentando absorver o aroma de natureza molhada...não havia amoras...somente barro e o cuco cantando.
Mesmos lugares...experiências diversas...sensações arrebatadoras para aqueles que souberam extrair delas toda a sua inerente magia.
Grande abraço e obrigada pela visita!

30 de outubro de 2010 às 14:59  
Blogger Unknown disse...

Acabei de retornar do Caminho e ao ver as fotos do seu blog uma vontade imensa de retornar tomou conta de mim. Seu trabalho é maravilhoso e estimulante. Abraços.

3 de dezembro de 2017 às 23:28  
Blogger Leila Liz disse...

Fico muito feliz por saber que você está pensando em retornar! Fiz isso em maio deste ano, usando os pés, trem e ônibus...o caminho da gratidão! Retorne, vai adorar! Outro Camino, outra vivência! Abraço carinhoso, Celso!

4 de dezembro de 2017 às 10:09  

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