domingo, 9 de maio de 2010

Villafranca del Bierzo-Ruitélan

13/05/09

Era cedo quando deixei Villafranca...a lua ainda passeava no céu.


Seria um trajeto perigoso...beirando a rodovia...num vale.


Enxergava-se pouco...muita neblina...sentiria medo em outras épocas...não mais agora...o dia acordava.

 

Bendito lenço...subiu do pescoço para o rosto...o frio cortava a pele...queimava os olhos...respirar era sofrido.


O fundo do vale era muito frio...estávamos emparedados...numa serra.


Na sombra eu invejava o sol...queria que ele enviasse logo seu calor...estava gelada.


O riacho corria...ligeiro...barulhento...próximo à água era mais frio...o sol estava preguiçoso.


Em Trabadelo uma profunda inspirada nas roseiras  me animou.
Suas pétalas estavam orvalhadas...perfumadas...umedeceram minhas narinas.


Caminhei  um tempo acompanhada pelo riacho...pela floresta úmida...sentia-me muito segura...havia musgo pelo chão.


Os caules engrossaram...pareciam a pele das minhas mãos e pés...uma bela floresta.

   
Finalmente o sol...uma delícia o aconchego...as árvores muito próximas formavam um calabouço de força e proteção.


Troncos cortados mostravam proximidade com a civilização...o canadense me ultrapassou...estava feliz pela noite bem dormida.


Uma madeireira no caminho...que cheiro bom!


Caminhava pensativa...tentava decidir  se subiria até o Cebreiro carregando a mochila.


Mais um trecho pela rodovia...mais desequilíbrio...alegremente tentava equilibrar as emoções.


Reencontrei os catarinenses Jota e Arruda em La Portela de Valcarce...caminhavam com vigor...tinham ótima energia...eram do bem...alegres nos juntamos numa foto. 


Sonharia com campos de papoulas muito tempo depois no Brasil...acalmavam o coração...encantavam nossos olhos.

 

Mochila parada na estrada...alguém na mata exercitava sua fisiologia...educadamente desviava-se o olhar...rindo...óbvio.


Não parei em Vega de Valcarce...os brasileiros iriam comer feijoada no albergue de brasileiros...era cedo ainda...resolvi seguir até Ruitélan.


Não havia nada lá...só uma ermita abandonada...um café...e o Refúgio Pequeño Potala.


O espanhol em pé era rude mas simpático...nos recebia com música clássica suave...era relaxante.

Tivemos uma ceia comunitária deliciosa...sopa de "legumbres"...espaguete à carbonara..."natillas"..."vino y pan"...à vontade.

A americana ficou encantada com minha viagem solitária...o marido não a deixava fazer nada sem ele.  

Trocamos experiências...ótimas conversas...estávamos juntos como nas olimpíadas...Alemanha...Brasil...Espanha...Estados Unidos.

  

Fomos acordados às seis e meia com o som suave da Ave Maria e óperas...uma lágrima escorreu...cheiro de café fresco invadiu os dois dormitórios.

Na véspera o hospitaleiro tentou me dissuadir quando pedi que levasse...de carro...minha mochila montanha acima...até o Cebreiro.

"Você tem muita energia...é valente...forte...será capaz...não tenha medo".


Não era medo...sabia que vinha chuva...que o trecho era dificílimo...não iria arriscar agora no final...não estava numa competição...sentia muito cansaço...tossia.  

Haviam me desaconselhado a carregá-la nesse trecho íngreme ainda no Brasil...relutei...decidi pagar os 5 euros pedidos por isso...não me arrependi.

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