quarta-feira, 17 de março de 2010

Burgos-Hontanas

30/04/09

Já estava me acostumando com as meias maratonas diárias...faria hoje outra loucura...mais 30 quilômetros...tive problemas com hospedagem.


O Caminho cruzava o "paseo de la universidad"...bonito o campus.


O rio Arlanzon nos acompanharia por bastante tempo...115 quilômetros de comprimento...não vi nenhum pescador dessa vez.


Em Villabilla de Burgos ouvi um longo apito...era um trem RENFE...Red Nacional de Ferrocarrilles Españoles.

Um companheiro atrás  disse que era para nós...acenamos  de volta com o bastão...o maquinista retribuiu com os braços para fora.


Avancei até Tardajos...esse mapa do caminho em puro granito chamou minha atenção...já tinha andado bastante.


Parei para um lanche rápido...na  rua mesmo...senti um tremor no chão...aumentava rapidamente...barulho de sinos...olhei para trás...vinham velozmente. 



Fui surpreendida por esse congestionamento de ovelhas...eu estava bem no caminho daquelas diferentes e exóticas peregrinas...ou seriam peregrinos?


Com a passagem do rebanho fiquei espremida no canto...pisaram meus pés e consequentemente as bolhas...nunca na vida havia ficado tão próxima desses animais.

Sempre há uma primeira vez para tudo na vida...



O pastor simpático gritava "Non tengas miedo!"...eu não estava com medo...estava  curtindo muito...o cheiro era esquisito e forte.



Os balidos eram muito fortes e altos...elas é que deveriam estar com medo de mim.

As marcas pretinhas da sua passagem ficaram no chão... 



Como criança só ria...elas se foram correndo...amontoaram-se na passagem estreita...experiência agradável...a seta amarela estava lá.
  

A ideia não era caminhar tanto hoje mas os albergues  abriam às 15 horas e eu passei muito cedo por eles...não iria ficar esperando...estava bem. 

Passei por Rabé de Las Calzadas...uma graça de vila...senhorinhas conversavam na rua...molhei o rosto na fonte...estava muito quente.


E andei muito mais...passei por Hornillos del Camino...albergues "completos"...sem bateria...não fiz mais fotos.

Passei por  Sambol...a chuva nos pegou...albergues "completos" também.

Todos desanimaram...aí virou uma corrida...os mais jovens se apressaram...queriam chegar a Hontanas e tomar sua cervejinha.

Os lentos como eu iam a passo de tartaruga mesmo debaixo da chuva fina...doíam joelhos, costas e mãos.

Resumindo...estávamos um caco geral...em Hontanas todos os albergues "completos"...inclusive pensões.

Sobrou o refúgio municipal...tomei banho com água fria...minha cama era um colchonete de um centímetro...no chão...não havia mais acomodação...aceitei...ou teria que andar mais um pouco.

Exausta fui jantar...a austríaca Edith, o alemão Klaus e o paramédico suíço Pedro estavam lá...nos alegramos muito com o reencontro. 

Juan, médico homeopata de Madri, e sua filha holandesa Irene chegaram quase juntos comigo ao albergue. 

Ele ofereceu sua cama ao lado da filha...não aceitei...ele insistiu...eu disse que estava bem...deu seu   grosso cobertor para aquecer e amaciar meu sono...ele percebeu que o piso estava gelado.

Sentindo frio ele dormiu de roupa...foi um cavalheiro...exercitou a partilha.

Na madrugada sua filha acordou com febre...o médico não havia trazido nenhum medicamento...levou-a ao chuveiro...ficou feliz e encantado quando ofereci a "beladona"..."uma mão lavou a outra".

Demorei para voltar a dormir...a claridade da noite entrava pela janela...com frio esfreguei um pé no outro...as bolhas incomodavam.

Entendi que se as bolhas sempre saravam...mais cedo ou mais tarde...todos os outros "machucados" da vida também cicatrizariam...

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