segunda-feira, 5 de abril de 2010

El Burgo Ranero-Villarente del Puente

05/05/09

Olhei pela janela...o dia lentamente se espreguiçava...e acordava.



O céu se coloria de rosa e amarelo...várias nuances de azul...uma  gigantesca aquarela utilizada pelas mãos do nosso Pai Maior.


De repente...tudo laranja...amarelo...fogo...luz...mais um dia...vida!


Desci...tomei meu café olhando meu mapa reduzido...aquele que espantou companheiros que levavam guias completíssimos...mais da metade do trajeto...que bom!


Queria comprar pão...claro que toquei nele...tomei um pito...eles eram muito compridos...vendiam-se pães cortados lá...comprei só metade.

Sem lavar as mãos a dona da pensão partiu o alimento...embrulhou-o num jornal não muito limpo...aiaiai.


O caminho continuaria na calçada romana...em linha reta...calmaria.


Ao lado da rodovia...um solo pronto para ser semeado e irrigado...também semeávamos e irrigávamos nossas almas com a beleza da natureza.  


Que monotonia!...meu metabolismo estava muito mudado...muita energia...apesar do cansaço eu não conseguia ficar parada.


Mais apitos longos e ininterruptos...eram para mim...aquele maquinista queria mesmo ser notado...muito feliz acenei de volta com o chapéu. 



Sem motivo algum a "torneira" do choro abriu...era demorado...longo...aliviado...aliviante...pacificador.

Reencontrava uma pessoa que andava comigo fazia muito tempo...mas que eu ainda não conhecia tão bem...reconciliei-me com ela...fiz as pazes comigo mesma.


Percebia que seria possível viver na mais completa solidão...sem luxo...sem mordomias e vaidade...em completo silêncio.


Porém também era bom ter companhia...pessoas queridas à minha volta...conforto...perfume...roupas bonitas...estava lá o lado feminino...aberto e alerta.

"Acorda Leila!"...ouvi sons como se fossem bombas...eram tiros... estava atravessando um "Coto Privado de Caza"...uma zona particular de caça...só faltava ser confundida com algum animal!


Passei por alguns abrigos abandonados...ótima opção se estivesse chovendo.

 

Cheguei a Reliegos...uma vila...banheiro...água..."cafe con leche".

Nessa "bodega" deixavam-se mensagens nas paredes...em muitas línguas...pequenas injeções de ânimo para quem estivesse desanimado...não era meu caso.

Ainda mais depois do "bodegueiro" ter colocado para tocar música do Jota Quest..."para la brasileña". 


Ele me acompanhou até a porta...fui embora com a letra da música "Na Moral"  nos meus ouvidos.

"Viver entre o medo e a paz...pode fazer pensarmos mais".
"Quando tudo parecer não ter lógica...qualquer paranóia vai virar prazer de viver"...nossa loucura ali era muito sadia.


Mais um pouco de calçada romana interminável...sentei um pouco...tirei as botas...parou um peregrino alto e loiro..."Em que posso ajudar?"..."Você é médico?"..."Como sabe?"..."Médicos sempre fazem essa pergunta"...respondi...sorrimos juntos.


Caminhamos juntos um bom tempo...o neurocirurgião alemão estava de férias...teria que tomar uma decisão na volta...um convite para deixar de ser o número dois em Munique para ser o número um em Berlim...queria pensar no assunto...resolveu caminhar até Santiago.


Passei por Mansilla de Las Mulas...muitas ruínas de muralhas romanas...resíduos de um tempo em que a vila tinha grande valor estratégico.
Não era por acaso que havia antes dela uma longa calçada romana.


Uma feira popular com frutas e legumes...burburinho de civilização.


O descanso de um peregrino à sombra...o sol estava de matar!


Passei pelo haras magnífico e bem cuidado...no portão um brasão.


Um trecho pela trilha...muito trânsito do lado..."será que teria que andar na estrada de novo?".  


Sim teria...novamente os deslocamentos de ar fariam o corpo balançar e desequilibrar.


E também caminharia sobre a linda Puente Villarente...outra herança romana...cheia de arcos e de caminhões.


Finalmente Villarente del Puente...no refúgio privado San Pelayo...o dono havia me abordado na estrada fazendo propaganda.


Não havia muita privacidade mas tinha um canto com boa música e livros interessantes...muito aconchego e calor humano.



Os amores perfeitos do jardim nos davam as boas vindas...convidavam ao descanso.



Era bom ficar sozinha nas pensões mas se perdia muito dos contatos e das conversas com as pessoas.

O italiano acabado com as pernas queimadas do sol, a canadense, o austríaco e a americana descansavam no gramado..."junte-se à nós Leila!"...ainda tinha que lavar minhas roupas.

 

Para o jantar "tortillas, ensaladas, pan, vino e agua"...tudo delicioso. 

À mesa o tcheco Peter na cabeceira...dois alemães...Fritz e Wolfgang...Udo...austríaco que perdeu um dedo do pé em 2008...retornava agora para completar sua jornada.

Duas irlandesas muito alegres e Yoko...bonequinha japonesa que eu "adotei" por dois dias até que perdesse o medo...ela não falava nada de espanhol e quase nada de inglês.

Tinha vindo com uma amiga que se acidentou e havia seguido de ônibus a Leon...Yoko quis continuar sozinha...não conseguia se comunicar...tinha passado fome e sede.


Orientais não conseguem falar direito a letra L...Yoko mostrava o coração e dizia "Reira, Reira...arigato"...me tocou muito.

Ela fez a foto e dormiu do meu lado...em paz depois de passar muitos apuros.

"Buenas noches!".



  

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

verdadeias poesias...seus comentarios, parabens Leila, continue nos brindando com essas lindas fotos

7 de maio de 2013 às 12:41  
Blogger Leila Liz disse...

Obrigada Anônimo pelo carinho...vamos caminhando...Buen Camino!






7 de maio de 2013 às 13:15  
Anonymous Anônimo disse...

Tlocando o l pol r
Remblando a amiga japonesa

Reira rindo !!!
Graciano

7 de maio de 2013 às 13:22  
Blogger Leila Liz disse...

Gostei da "rembrança", Graciano...
"Reira Riz riu muito...mas "rágrimas" também vieram.
Abraço!

7 de maio de 2013 às 13:44  

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