sexta-feira, 19 de março de 2010

Hontanas-Itero de La Vega

01/05/09

Hoje seria um dia de muita introspecção...a natureza ecoava lá dentro de mim...estar sozinha fazia isso...e era muito bom.

Eu olhava a paisagem com os olhos de dentro...e via muita beleza.


Resolvi fazer uma filmagem...amadora...queria registrar o local e as sensações...com o ruído do vento mal dá para ouvir o que eu falava.


Não temos um mapa que ensina como viver a vida...construímos a nossa  vivendo um dia de cada vez...

Ali não era diferente...caminhávamos como vivíamos...sem ensaio.


O dia estava brilhante...a vegetação muito viva...parecia querer contar muitas histórias de peregrinos anteriores a mim. 


Continuei a filmagem...dessa vez caminhando...o terreno me permitiu andar um pouco sem os bastões...estava ofegante mas feliz.


Passei pelo Convento de San Antón do século XV...abrigou na Idade Média a já extinta Ordem dos Antonianos...parece que traziam uma cruz  azul no peito da batina.

Eram conhecidos por conhecerem a cura da gangrena conhecida à época como "fuego de San Anton"...ofereciam pão, abrigo e bênçãos aos peregrinos doentes.

Seria algum medicamento secreto...algum tipo de  erva...ou somente limpeza e higienização?...talvez o poder da fé...

Isso jamais saberemos.



Da estrada avistei Castrogeriz...cidadezinha bem à margem do caminho e a Iglesia de Nuestra Señora Del Manzano.


Lá no alto as ruínas do castelo Castrum Sigerici...fortaleza do século IX ocupada por visigodos...romanos...árabes...espanhóis.

De lá de cima esses povos em tempos de guerra viam muito longe... 


O sinal logo no início da Cuesta de Mostelares com seus 910 metros de altitude mostrava bem o que me esperava...ânimo não me faltaria...só água.


Vi alguns peregrinos desconhecidos...muito falantes...suas mochilas eram pequenas...faziam os trechos em etapas curtas...suas "vans"  levavam o pesado e os esperavam no final de suas caminhadas.

Achei graça quando vi que levavam guarda-chuva dentro das bolsas...desodorante...escova de cabelo...água mineral para lavar o rosto quando transpirassem muito.

Fazia-se o caminho de todas as formas...bastava querer muito. 


"Camina caminante...vamos ver o que tem lá em cima"...olhei para trás...percebi vários tubetes fincados na encosta...não consegui descobrir o que seriam...talvez um marco místico...ou nada disso.

"Guenta Leila...agora chupa a rapadura!".


Olhei à esquerda...que privilégio poder estar ali...as nuvens iam e vinham...o dia estava lindo!


Olhei para a frente...muita terra e pedra...escorregava...fincava os bastões...suspirava...concentrava-me....que bom que não chovia.


Olhei para trás...meus companheiros pareciam formiguinhas corcundas.


De lá de cima avistei um imenso parque eólico...o vento era bem aproveitado...para onde iria tanta energia?

 

Exausta e feliz...quase sem água...fiquei olhando as flores e toda aquela beleza sem nenhuma pressa...nem olhei para o relógio. 


O tempo passava...a vida fluía...ninguém julgava ninguém...cada um fazia o que  queria...quando queria...e se queria.

Passei pela Ermita de San Nicolás de Puente Fitero onde funciona hoje um albergue...lá longe a Puente do século XI e seus onze arcos.



Toda de pedras é a mais longa do caminho...embaixo dela o rio Pisuerga...uma beleza de 283 quilômetros de comprimento.


Sentar em uma pedra em forma de cadeira era um luxo...se era na sombra então...alegria dobrada.



Entrava na Província de Palência...Burgos já era...ainda Castilla y Leon.


Em Itero de La Vega resolvi ficar no hotel vizinho ao albergue...refúgio privado Itero...valeu a pena.


Havia esquecido como era dormir em cama com lençol e travesseiro.

Tomei banho e pude sair despida do box quadrado de  60 centímetros...pequeno?...achei ótimo...um verdadeiro cinco estrelas!

Saí para comprar o lanche do próximo dia...encontrei Juan e Irene.
Ela estava sem febre mas tinha bolhas nos pés...o homeopata estava de novo sem medicamento...nem o "compeed" que parecia uma pele artificial eles tinham...e isso era sempre recomendado por todos.

Eu tinha tudo...até pomada cicatrizante de "calêndula"...agulha e linha esterilizadas...ele ficou mais uma vez encantado e surpreso.

Ela preferiu que eu tratasse as "ampollas" dizendo ao pai que eu era mais experiente com as agulhas...já sabiam a minha profissão.

Foi engraçado vê-lo acompanhando todo o processo  e depois agradecendo pelo tratamento.

Jantamos juntos e conversamos longamente...apesar das relações serem rápidas elas eram incrivelmente intensas, verdadeiras, boas e inesquecíveis!

2 Comentários:

Blogger Helena Menezes disse...

Boa tarde!!!
Tudo bem com Você????
Este trecho é lindo!!!!!
Seja feliz!!!
Helena

31 de outubro de 2013 às 12:42  
Blogger Leila Liz disse...

Olá querida Helena...sempre me honrando com suas visitas!
Obrigada pelo carinho. Já sou muito feliz e continuarei esforçando-me para sê-lo.
Saúde e Paz!
Seja feliz também!

31 de outubro de 2013 às 20:16  

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