domingo, 24 de janeiro de 2010

Alto del Perdón-Puente la Reina

20/04/09 ainda

Fiquei sentada no chão um bom tempo...admirando a paisagem...belíssima...grandiosa.


E curtindo a chegada dos outros peregrinos...acabados como eu!


Não cansava de olhar...meu Deus...quanta beleza!!!!!



Depois da subida o que vinha?...claro que era a descida...mais fácil?
Nem sempre...se a subida era complicada porque a mochila te puxava para trás...na descida ela te empurrava para baixo...e com muito vigor..."Guenta Leila!".



Fincava os bastões com força entre as pedras e passo a passo descia...os joelhos começaram a incomodar...mas a joelheira ajudava a dar firmeza.


Numa das pausas para descansar deitei num banco...de repente saiu do mato correndo essa labrador peregrina e ficou do lado da minha mochila descansando...ganhei umas lambidas...bem depois apareceu seu dono...e eles retomaram seu caminho.


Neste trecho haviam me sugerido uma visita à igreja de Santa Maria de Eunate...um templo octogonal de origem templária do século XII.
Dizem que sua construção foi baseada na igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém.
Eunate em "eusquera"  quer dizer cem portas...

Já havia lido sobre essa "ermita" e havia fotografado sua maquete em Pamplona.


Há muitas lendas sobre ela...

Seria um farol para os peregrinos...lá no topo ficaria uma fogueira acesa dia e noite.

O rei Salomão teria mandado enterrar ali os restos da rainha de Sabá...cemitério de peregrinos...túmulo da rainha Sancha de Aragão...sede das reuniões templárias...entre outras histórias.

A vontade era grande mas teria que desviar uns 3 quilômetros da rota e eu já caminhava com dificuldade...a mochila pesava...doía tudo.

Como na vida...quando entre dois caminhos você escolhe um...o outro perece...você nunca saberá o que teria acontecido.

Não fui...quem foi adorou..."Fica para a próxima Leila!".

Continuei meu caminho...devagar...pensativa...nesse lindo cenário.


Toc...toc...toc...toc...o barulho dos bastões era meu companheiro.


Passei por Obanos...uma graça de cidade...tranquila...vazia e muito limpa.


Estava longe ainda ...porém pensei no que já tinha conseguido...e fiquei feliz!


Finalmente...Puente la Reina...fiquei no refúgio privado Jakué.

Tomei banho e saí para comprar água, frutas, frutos secos e chocolate.
Fui jantar com Arlete uma executiva canadense aposentada e Deborah uma professora americana de pedagogia.
Seus objetivos com a caminhada...emagrecer.

Jantamos como rainhas...a fome era tanta que não sobrou nada! 
Saladas, massas, sopa, bacalhau, sorvete, água, pão e vinho.

Deborah tinha computador, celular...carregava uma parafernália.
"Are you crazy?"..."Você é louca?"...ficou doida quando falei que não levava celular e nenhum guia.

"Sigo os sinais e me situo com meu mapa reduzido...não quero carregar peso"...eu contei.


Nesse refúgio havia seis reservados separados por persianas de madeira...com dois beliches em cada um.


Dormimos em quatro pessoas...um austríaco, eu, um espanhol e um outro que chegou mais tarde...eu não sabia de onde ele era.

Bem antes das 6 horas um casal em outro reservado fazia barulho...era o zíper...saquinhos sendo amassados...cochichos.
Eu já estava acordada me alongando na cama...quietinha.

Eles usavam lanternas na cabeça...como mineradores...que esbarravam a todo momento no beliche.

De repente ouvi do meu lado...com sotaque português...
"Ó raios que falta de educação...ora pois...esses peregrinos são tão apressados...acho que pensam que São Tiago vá a fugir...".

Caí na gargalhada e descobri dessa forma de onde era meu companheiro de beliche.

Foi o que faltava para descontrair...levantamos todos...e começou mais um dia...

Sobre Puente la Reina conto depois.