quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Puente la Reina-Estella II

21/04/09 ainda

Depois de um bom descanso em Cirauqui...um "café con leche"...um "bocadillo de jamón y queso"...e reabastecimento de água...


A energia e alegria retornaram...trocamos ideias entre peregrinos...distâncias percorridas...de onde éramos.

Dentro das vilas também havia ladeiras escorregadias e difíceis...e eu acabava dando risada sozinha...de mim mesma e dos outros.

 

Belos campos...ventava um pouco...o sol continuava...quente...já não era tão bem vindo.


Que delícia de lugar...sombra...barulho de água...tirei as botas...sentei na pedra e molhei os pés...um bônus para eles.


Frank parou..."Precisa de alguma coisa?"..."Não obrigada estou bem"...era sua terceira vez no Caminho...aí está ele atravessando uma pequena ponte romana.


Nenhum peregrino continua se vê o outro parado...é quase uma regra.
Cuidávamos uns dos outros...ninguém avançava enquanto não ouvia que estava tudo bem...exercício de solidariedade.


Essa senhorinha me parou e perguntou olhando bem dentro dos meus olhos...
"Eres peregrina?...camina por mí porque mis piernas non pueden más...vaya com Dios...y buen camino!".

Os velhinhos tinham grande consideração pelos peregrinos...nos abençoavam...isso sempre me emocionava.


A paisagem continuava linda...flores coloridas como essas tulipas.



Ou como as orquídeas azuis...tudo crescia no meio das pedras.



E essa vegetação tão viva...e acolhedora...era bom ouvir o vento passando por ela...um sopro manso.


Havia tipos estranhos...esse por exemplo falava o tempo todo numa língua que eu não entendia...talvez um dialeto...ou um mantra.


E esses dois peregrinos a cavalo...com seu cachorro...acenaram para mim...tinham muita pressa.


Depois de Lorca muitos montes de feno seriam vistos ao lado das trilhas.


 Passei por Villatuerta ...outro pueblo...


Nova pausa nesse lindo parque com tapete de flores brancas miúdas...passarinhos cantavam...fiquei ali recarregando a alma de beleza...comi frutos secos e um sachê de carbohidrato para dar energia...menos peso na mochila!


O Caminho tem seus perigos como no caso dessa canadense que morreu atropelada ao cruzar a estrada bem à minha frente...estaria ela cansada...distraída...feliz?

A região era linda...toda florida de amarelo!

Veria outros desses  marcos até chegar a Santiago...


"Pueda ella siempre caminar sobre los campos de oro".


 Passei pelo cavalo que comia um "bocadillo"...que fome me deu!


Finalmente cheguei a Estella...uma das sedes da Associação do Caminho de Santiago...com muitas construções medievais.


Encontrei muita gente no albergue...como eu parava bastante era quase sempre uma das últimas a chegar.
Isso significava cama ruim e sem privacidade...e água fria para o banho...
O hospitaleiro disse que não havia vaga nos quartos..."com jeitinho brasileiro" olhei para ele e pedi que não fizesse aquilo comigo.

Ele me arrumou um beliche num corredor...tinha ar fresco mas ficava na passagem para os dormitórios...improvisei uma cortina com o tal cobertor...aquele do avião.
Banhei-me quase sem voz...de frio...não consegui lavar a cabeça...exercício de paciência e desapego.

Quando me viram ali foi até engraçado...acharam mordomia que eu ficasse sozinha...
Outra lição..."quem ri por último às vezes pode rir mais".

Alguns viram que eu falava espanhol e me pediram que fosse ao supermercado com eles para servir de intérprete.
Queriam fazer um jantar comunitário e não sabiam escolher os ingredientes.

Lá fui eu andar mais 1 quilômetro...fazia frio. 

Embrulhei-me no cobertor metalizado de segurança que parece papel de bombom...e por isso fui chamada de "barra de chocolate" em vários idiomas.
Dica...esse cobertor não me ajudou muito e foi pouco utilizado.
Era muito barulhento e isso incomodava os outros.

Não o joguei fora logo pois tive medo de precisar...
"Só não devemos deixar que esses medos desnecessários paralisem nossas vidas"...alguém querido havia me dito algum tempo atrás.

Meus companheiros agradeceram a ajuda e ofereceram-me o jantar de presente. 


As coreanas cortaram as frutas com seus canivetes modernos...seus nomes eram difíceis de repetir.


Doze pessoas esperavam o austríaco Frank preparar o espaguete com carne e vinho tinto...sua deliciosa especialidade.
Ao seu lado o mexicano Juan...eles conseguiram...não sei como...se comunicar na execução gastronômica. 


 E todos nós mortos de cansaço e fome brindamos a nós mesmos... comemos com pressa e sem deixar nada nos pratos.


Subi até a minha "suíte" que ficava no segundo piso e desmaiei...exausta.
As luzes se apagaram às 22 horas...silêncio no corredor...que delícia...dormi sem ouvir "ronquidos"