Villafranca del Bierzo-Ruitélan
13/05/09
Era cedo quando deixei Villafranca...a lua ainda passeava no céu.
Seria um trajeto perigoso...beirando a rodovia...num vale.
Enxergava-se pouco...muita neblina...sentiria medo em outras épocas...não mais agora...o dia acordava.
Bendito lenço...subiu do pescoço para o rosto...o frio cortava a pele...queimava os olhos...respirar era sofrido.
O fundo do vale era muito frio...estávamos emparedados...numa serra.
Na sombra eu invejava o sol...queria que ele enviasse logo seu calor...estava gelada.
O riacho corria...ligeiro...barulhento...próximo à água era mais frio...o sol estava preguiçoso.
Em Trabadelo uma profunda inspirada nas roseiras me animou.
Suas pétalas estavam orvalhadas...perfumadas...umedeceram minhas narinas.
Caminhei um tempo acompanhada pelo riacho...pela floresta úmida...sentia-me muito segura...havia musgo pelo chão.
Os caules engrossaram...pareciam a pele das minhas mãos e pés...uma bela floresta.
Finalmente o sol...uma delícia o aconchego...as árvores muito próximas formavam um calabouço de força e proteção.
Troncos cortados mostravam proximidade com a civilização...o canadense me ultrapassou...estava feliz pela noite bem dormida.
Uma madeireira no caminho...que cheiro bom!
Caminhava pensativa...tentava decidir se subiria até o Cebreiro carregando a mochila.
Mais um trecho pela rodovia...mais desequilíbrio...alegremente tentava equilibrar as emoções.
Reencontrei os catarinenses Jota e Arruda em La Portela de Valcarce...caminhavam com vigor...tinham ótima energia...eram do bem...alegres nos juntamos numa foto.
Sonharia com campos de papoulas muito tempo depois no Brasil...acalmavam o coração...encantavam nossos olhos.
Mochila parada na estrada...alguém na mata exercitava sua fisiologia...educadamente desviava-se o olhar...rindo...óbvio.
Não parei em Vega de Valcarce...os brasileiros iriam comer feijoada no albergue de brasileiros...era cedo ainda...resolvi seguir até Ruitélan.
Não havia nada lá...só uma ermita abandonada...um café...e o Refúgio Pequeño Potala.
O espanhol em pé era rude mas simpático...nos recebia com música clássica suave...era relaxante.
Tivemos uma ceia comunitária deliciosa...sopa de "legumbres"...espaguete à carbonara..."natillas"..."vino y pan"...à vontade.
A americana ficou encantada com minha viagem solitária...o marido não a deixava fazer nada sem ele.
Trocamos experiências...ótimas conversas...estávamos juntos como nas olimpíadas...Alemanha...Brasil...Espanha...Estados Unidos.
Fomos acordados às seis e meia com o som suave da Ave Maria e óperas...uma lágrima escorreu...cheiro de café fresco invadiu os dois dormitórios.
Na véspera o hospitaleiro tentou me dissuadir quando pedi que levasse...de carro...minha mochila montanha acima...até o Cebreiro.
"Você tem muita energia...é valente...forte...será capaz...não tenha medo".
Não era medo...sabia que vinha chuva...que o trecho era dificílimo...não iria arriscar agora no final...não estava numa competição...sentia muito cansaço...tossia.
Haviam me desaconselhado a carregá-la nesse trecho íngreme ainda no Brasil...relutei...decidi pagar os 5 euros pedidos por isso...não me arrependi.