segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Madri-Pamplona-Saint Jean Pied de Port

16/04/09

Em Madri minha bagagem chegou em ordem e fiz a conexão para Pamplona. Já estava muito cansada e um pouco tensa.

Por sugestão da Associação dos Amigos de Compostela de São Paulo havia feito contato com o Hector, residente em Pamplona, campeão uruguaio de ciclismo em estradas e treinador da equipe feminina da Espanha. 

Hector e seu amigo David fazem o transporte de peregrinos, de carro, de Pamplona a Saint Jean Pied de Port  por 95 euros.

Não poderia ir de ônibus pois meu avião chegaria depois do último horário e queria já ter um carro à minha espera.
"Ele estaria lá?"...era a pergunta que martelava minha cabeça.

No avião pequeno só havia famílias. Peguei a mochila na esteira e saí.
Procurei e nada, nenhum cartaz com meu nome e todo mundo tomando seu rumo.
"Calma Leila você não é marinheira de primeira viagem".

Ficamos eu e um rapaz com um micro pedaço de papel na mão no saguão.
Olhei pra ele e perguntei "Hector?"...ele "No...soy David...eres Leila?".

O trajeto para Saint Jean Pied de Port é lindo!
Muitas curvas que me "marearam un poquito", belíssimas paisagens e muitas ovelhas de cabecinha negra sendo controladas por cães pastores belgas.


Conversamos bastante e ele me disse que o tempo andava muito ruim, com chuva e atípico para a época.

Várias pessoas  haviam me desaconselhado a fazer o trajeto SJPP/ Roncesvalles à pé.
É um trecho muito íngreme pois você vai de aproximadamente 200 a 1400 metros de altitude.

É maravilhoso...pois atravessa os Pireneus...porém bastante acidentado e considerado muito difícil.

No Brasil eu tinha dúvidas se faria ou não esse trecho de 24 quilômetros.
Resolveria lá quando chegasse.

"Não tenho uma boa notícia para você Leila.
Ontem três mulheres, com hipotermia, foram resgatadas de helicóptero das montanhas e não sobreviveram" .


 Quando cheguei a SJPP fui até a Association de les Amis du Chemin de Saint Jacques de Compostelle e eles me deram um papel com as distâncias, perfis de terreno e endereços de albergues.

Pratiquei meu parco francês do ginásio, misturado ao inglês e espanhol.
Franceses não gostam muito de falar outra língua que não a sua.

"Não suba a pé, você está sozinha, cansada e com 5 horas de fuso horário descompensando seu metabolismo" me  disseram carinhosa, mas incisivamente.

Não havia ainda dormido desde a minha partida.
Contaram-me do episódio da montanha e naquele momento decidi que não iria a pé.

Minha coragem era grande mas minha prudência maior.


David havia me levado à pensão de Madame Marie, à direita na foto, com os vasos à porta.

Justificando a crise mundial ela quis me cobrar 30 euros por um quarto escuro e frio...com a calefação desligada pois para eles estávamos na primavera...e sem janelas...e eu sou um pouco claustrofóbica. 

Compreendi seus motivos mas pechinchei e paguei antecipadamente 25 euros mais 10 euros por um "suuuuper" café da manhã.
Super simples ela quis dizer. 

Havia levado 1400 euros para passar os 40 dias "espartanamente".
Cartão de crédito só para emergências.

Saí, tomei uma sopa de lentilhas, banhei-me e fui dormir vestida e dentro do meu saco de dormir.

Ansiosa e um pouco assustada encostei minha mochila e uma cadeira na porta.