El Acebo-Ponferrada
11/05/09
El Acebo ficava numa encosta...suas casinhas tinham escadas externas para subir ao segundo piso.
Muitas vezes fazemos isso...ficamos à margem...não mergulhamos...aprofundar-se às vezes pode doer...ali doía...muito.
Dia de muitas descidas...noite bem dormida...a calefação e o delicioso "desayuno" me revigoraram...pronta para seguir.
Delicadeza e simplicidade silenciosas de moradores em Riego de Ambros...bancos e bênçãos à porta de suas casas...para quem deles precisasse.
Tive que passar abaixada...o túnel de galhos segurou a mochila...sozinha demorei para me desvencilhar...fiquei presa como num varal...só risada!
Depois do enrosco...um número de circo...equilíbrio em troncos úmidos e escorregadios...prêmio...não cair na lama.
Era muito fresco ali...um convite irrecusável...perfeito...parei.
Quantas confissões deveriam ter sido feitas sob essas árvores seculares...eram absurdamente acolhedoras...mágicas eu diria.
Mais e mais eu me conhecia...era o autoconhecimento se aprofundando...a coragem crescia.
Trilha estreita...atenção redobrada na encosta perigosa...a mochila puxava o corpo para a esquerda...para baixo...desequilibrava.
Verde-amarelo na encosta...nossas cores...a saudade se instalava.
Na comarca de El Bierzo...lá de longe avistei Molinaseca...alguém voava para casa.
Rio Meruelo e sua ponte românica somente para pedestres...águas rasas e cristalinas...os olhos já marejavam...sem motivo.
Muito devagar cruzei a Calle Mayor...silenciosa...deserta...colorida.
O peregrino me deu forças com seu olhar humilde e seguro...avante!
Casa moderna...garagem abrindo...gentis me deixaram passar..."Buen Camino!".
Nos quadriculados do jogo de xadrez da natureza...um xeque-mate na sensibilidade.
Escudos e brasões nas paredes e portas...charme extra ao caminho.
Céu carregado...sol...muitas nuvens...já conhecia aqueles sinais...chuva.
Esculturas pontilhavam a cidade...o músico e seus alunos conversavam na Calle Jardines de Ponferrada.
Fila no Albergue Paroquial...portas fechadas...voluntários despreendidos...alegres...cuidavam de bolhas e tendinites.
Um burro peregrino no jardim...dormiria fora...seu dono antes de descansar cuidou dele com muito carinho.
A cruz de flores no jardim da fortaleza do século XII marcava um local histórico...a sede dos Cavaleiros da Ordem do Templo.
Imponente...fechado para visitas...pena...ponto negativo.
Os Templários surgiram na época das Cruzadas...1096...protegiam peregrinos que iam para Jerusalém...muçulmanos a ocuparam por muitos anos...cristãos não eram bem vindos.
Circundei-o...de olhos fechados imaginava cavaleiros com manto branco adornado pela cruz vermelha...atravessavam a ponte...a galope...partiam.
Napoleão também passou por Ponferrada...destruíram o castelo parcialmente em 1808...não queriam que ele o ocupasse.
Passei pela Torre del Reloj...último resquício das muralhas medievais dos portões da cidade.
Estava cansadíssima...a tosse permanecia...queria mesmo assim ver tudo...a Plaza del Ayuntamento era simétrica e bela.
Cozinhei tortellini de espinafre com ricota...juntei queijo grana padano...jantei muito...a cozinha cheirava a tempero e gente...poucos tomaram banho...não havia água quente.
Um cesto de roupas...chapéus...luvas...peso em excesso deixado por viajantes no albergue...fez a alegria de outros...brechó em Ponferrada.
Outra escultura...das "Pimenteiras"...colhedoras de pimenta.
Nesse marco...202,5 quilômetros...tive a certeza que chegaria...até então era só uma tentativa...Santiago me veria em alguns dias!